Dia desses meu namorado me mandou um vídeo e disse "podia ser a gente mas  você não bebe" e comecei a pensar (porque coisas bem simples do nada me fazem refletir sobre a vida) e sobre o fato de eu não beber (bebida alcoólica, só pra ficar claro), lembrei das inúmeras vezes que eu falei para as pessoas que não bebo e elas ficaram muito indignadas, como se fosse o início do fim do mundo.

Existem N motivos pra uma pessoa não querer beber, não poder ou não gostar de beber, motivos religiosos, traumas, sabe que é algum tipo de gatilho, problemas de saúde, entre outros.
No meu caso, são dois. Não é algo muito indicado pra mim ingerir álcool porque à um tempo atrás eu fiz um tratamento para as espinhas com o roacutan e não tomei os devidos cuidados na época e ele atacou muito meu fígado e o segundo motivo é que eu simplesmente não posso, não agora.

Como eu disse pro meu namorado, eu não posso começar a beber, não agora. Acho que quando escutam que eu não bebo devem me achar mega certinha e coisas assim mas mal sabem eles que eu espero ansiosamente pelo dia que eu vou poder me permitir beber até vomitar, vou poder jogar tudo pro alto nem que seja só por uma noite, que vou poder fazer isso sem sentir nenhum tipo de culpa. E quer saber o real motivo de eu não ter feio isso ainda? Meus pais, principalmente pela minha mãe.

Desde os meus quatorze anos eu me sinto um peso na vida dos meus pais, é como se eles me dessem tudo e eu não fizesse nada pra retribuir, não importa o que faça. Piorou depois que eu fiquei de recuperação no último ano do ensino médio, que minha mãe queria muito que eu fosse pra escola técnica e não dava porque minhas notas estavam muito baixas e ainda estava de recuperação. Nos anos seguintes eu estava me esforçando muito pra ter notas boas e conseguir dar nem que fosse um pouquinho de orgulho a minha mãe, mas quase nunca era a nota 10, ela dava os parabéns mas sempre seguido de "na próxima tire 10", muito podem pensar que isso é muito bobagem, até porque é mais que normal que os pais queiram que o filho se saia sempre bem no que vão fazer mas isso sempre pesou muito pra mim, como se eu nunca conseguisse ser boa o suficiente.
Chegou o tempo da faculdade, não entrei na universidade assim que terminei, podem até pensar que foi bom porque eu teria tempo pra pensar e descobrir o que eu realmente gostaria de fazer mas não foi bem assim. Era só cobrança de que eu tinha que estudar pra passar no vestibular, bom, não consegui e resolvi optar pela faculdade particular através do FIES. Entrei na faculdade e achei que toda aquela pressão de entrar pra universidade tinha acabado mas não acabou. Eu não faço um curso que dá tanto dinheiro e é "ruim" pra onde eu moro e o principal, pra minha mãe, não é pública. Sim, é minha mãe que paga a parte que o FIES cobre, ela aceitou me deixar fazer o fies porque viu como eu tava sofrendo por não conseguir na pública, ela comprometeu parte da renda dela pra me ajudar mas ela ainda cobra "Sabrina, faz o vestibular da UECE pra ver se agora tu consegue", as vezes eu penso que não iria importar muito o que eu cursasse na faculdade pública mas por eu estar em uma já ia ser bom pra ela sabe?! E eu continuo tentando sim os vestibulares na pública, porque eu quero conseguir que a minha mãe sinta orgulho de mim pelo menos uma vez.

Mas e aí né, o que isso tem haver com o fato de eu não me permitir beber? Meus pais não gostam disso e eu não quero dar mais um motivo pra me tornar mais ainda um desgosto. Eu ainda moro na casa deles, são as regras deles, talvez ela, minha mãe, nem me veja assim, como um desgosto por não ter passado na pública mas eu me vejo assim pra ela e isso me machuca tanto. E o que me conforta é que um dia eu vou me formar, ter um emprego, ter minha própria casa, minha própria vida e nem que seja apenas por uma noite, eu poder beber até dizer "chega" como todo jovem, provavelmente não vou ser mais tão jovem assim mas vou fazer.

E só mais uma coisinha, eu amo a minha mãe, ela é uma pessoa incrível, eu realmente entendo ela mas acho que senti a pressão mais do que aparentava. E eu tenho esperança de um dia ela sentir muito orgulho da filha que tem.


Nem por um momento eu estou querendo dizer que quem bebe é um desgosto pra família por beber, este é apenas um relato meu, sobre mim.